Todo mundo quer ser um líder de sucesso! O termo liderança nunca esteve tão na moda como nos últimos anos e apesar de todos nós conhecermos essa palavra em nosso vocabulário, será que entendemos de forma ampla o seu significado?

O que faz de uma pessoa um líder? O que é liderança?

Para mim, liderança tem a ver com movimento. Um líder é alguém capaz de mover pessoas de um determinado ponto para outro, da forma mais harmônica e com o menor esforço possível. É alguém capaz de influenciar outras pessoas, ou seja, de motivar alguém a realizar algo que precisa ser feito, de promover mudanças.

Um líder move as coisas do seu lugar, inova, desafia a sua equipe a pensar melhor e a se desenvolver ainda mais.

Um líder é, acima de tudo, um guia em direção a algum objetivo em comum.

E entendendo este conceito, fica fácil compreender a importância dos líderes em uma sociedade. 

Nos grandes movimentos políticos que impactaram a vida de milhões de pessoas ao longo da história da humanidade, por exemplo, a figura de um líder à frente de uma multidão de seguidores sempre foi e será algo transformador e revolucionário.

No ambiente empresarial, da mesma forma, um líder forte é fundamental para o crescimento da empresa e para que as equipes trabalhem da forma mais eficiente possível em busca dos seus objetivos. Quanto mais uma empresa cresce, mais líderes ela vai precisar, pois o líder é uma das principais ferramentas em qualquer processo de evolução e inovação.

Durante minha formação na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), pude aprender e entender na teoria e na prática a importância da figura de um líder, pois é justamente para isso que somos formados, para liderar homens nos mais diversos tipos de situações, seja na paz ou na guerra.

Uma coisa que ouvi certa vez de um dos meus instrutores e que ficou gravada na minha mente foi a seguinte frase: “Imagine o tipo de liderança que é necessária para ordenar a um homem que caminhe em direção a morte e mesmo assim ser obedecido, não por que ele lhe teme, mas por ele o admira”. 

Jamais me esquecerei dessa frase e, para mim, ela define o conceito mais profundo de liderança que pode existir. Liderar é gerar uma confiança tão forte em outra pessoa, que ela estaria disposta a seguir qualquer caminho que você indicar, a fazer qualquer coisa por você e pela sua causa.

E claro, como tudo na vida, a liderança pode ser usada para o bem e para o mal

Hitler, por exemplo, foi um bom líder? Pense um pouco sobre isso!

Sim, ele foi um ótimo líder!! Note que eu não estou perguntando se ele foi um líder bom, do bem, que fazia coisas boas. Eu estou perguntando se ele foi um bom líder, ou seja, se conseguia influenciar as pessoas ao ponto de faze-las cumprirem exatamente o que ele determinava.

E a resposta é sim! Ele se utilizou de sua imensa capacidade de liderança para influenciar pessoas a fazerem coisas horríveis! Ele é um ótimo exemplo de liderança utilizada para fins negativos.

E Jesus Cristo, foi um bom líder? Claro que sim, não é mesmo?!

Além de um bom líder, Jesus Cristo também foi um líder bom, que influenciou (e continua influenciando) as pessoas a seguirem o caminho do bem.

E se você deseja aprender mais sobre a liderança do bem, se quer aprender como ser um bom líder e influenciar as pessoas de maneira construtiva, a alcançarem objetivos e metas maiores, vou compartilhar agora com você as 5 lições que aprendi durante a minha formação e a minha carreira como Oficial Combatente do Exército Brasileiro.

Ao final deste artigo, você terá se desenvolvido em diversas áreas e aprendido mais sobre vários temas, como:

  • O que é liderança e como se tornar um líder eficiente;
  • Quais os tipos de liderança e suas aplicações práticas em diversos contextos;
  • Como desenvolver as características e habilidades de um grande líder;

Lição 1 - A palavra convence, mas só o exemplo arrasta!

Certamente você já se deparou com alguém que fala, fala, fala, porém, na hora de fazer, não pratica nada daquilo que prega, não é mesmo? Costumamos chamar pessoas assim de hipócritas. No meio militar, o jargão que usamos para descrever é “moral de cueca”.

E a primeira lição que aprendi sobre liderança, durante toda a minha formação na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, na Academia Militar das Agulhas Negras, nos Cursos Operacionais que fiz, dentre eles o Curso de Guerra na Selva, um dos mais difíceis do mundo e no meu dia a dia na tropa, como Oficial Comandante de Pelotão em Batalhões localizados na Amazônia Brasileira, foi que não devemos ser MORAL DE CUECA!

O motivo? Por que ninguém respeita alguém que não age de acordo com aquilo que sai da sua boca.

E eu vou te dar um exemplo aqui bem claro, que ocorreu comigo em minha formação e que certamente irá servir para que você também lembre de situações parecidas que aconteceram em sua vida.

Lembro que um dos nossos instrutores, certa vez, era um camarada que nitidamente estava acima do peso e não tinha um condicionamento físico tão bom. Ele não conseguia correr com o grupamento de alunos e geralmente, durante as atividades físicas, ficava nos olhando enquanto nos exercitávamos.

Até aí tudo bem, porém, o problema é que ele não parava de gritar para que nós treinássemos mais pesado. “Bora, seu molenga, você já tá cansado?”, “A minha vó, que usa cadeira de rodas, consegue correr mais do que você”!, “Por que você já está suado, o treino ainda nem começou!”.

Essas e outras diversas frases “motivacionais” saiam da sua boca o tempo todo, aos berros, enquanto ele nos observava, parado, geralmente na sombra, ostentando a sua barriga saliente e a sua respiração ofegante.

E nós tínhamos também um outro instrutor. Ele também gritava frases motivacionais como as do nosso amigo instrutor Bolota, o apelido carinhoso que demos para ele. Aliás, esse segundo instrutor era ainda mais rígido, muito mais rígido.

Porém, existia uma diferença significativa no modo que ele agia. Ele estava sempre ao nosso lado, fazendo exercícios junto conosco, no sol, na chuva, em qualquer horário e local. Ele gritava conosco ao mesmo tempo em que nos guiava, nos mostrava como deveríamos fazer e que deveríamos superar os nossos limites.

E ele não tinha um condicionamento físico excepcional. Não era um desses caras bombados, cheio de músculos ou um corredor nato que nem suava ao correr 10 km. Ele era um cara normal, na verdade.

Durante os treinos, ele suava, ficava cansado e respirava ofegante, muitas vezes. Ele era um cara normal, um ser humano assim como todos nós. Mas ao mesmo tempo em que ele nos incentivava e cobrava para que déssemos o nosso melhor, ele também estava ali conosco dando o seu melhor.

Qual a diferença básica entre os dois instrutores? O EXEMPLO!

Ambos nos cobravam muito e eram extremamente rigorosos, porém, somente um deles agia de acordo com as suas palavras. E este é um ponto crucial acerca da liderança: você só vai conseguir liderar verdadeiramente um grupo se der o exemplo!

Um líder precisa dar o exemplo, agir conforme o que prega, caso contrário será visto como um hipócrita, um moral de cueca e jamais conseguirá liderar verdadeiramente os seus subordinados ou qualquer tipo de grupo.

Como alunos em formação nós tínhamos que obedecer todos os nossos instrutores. Se o Bolota nos dava uma ordem, nós obedecíamos, ponto final! Isso é disciplina, um dos pilares do Exército Brasileiro e de qualquer Força Armada do mundo. Porém, ele conseguia até nos comandar, porém, jamais foi visto como um líder.

No seu local de trabalho, por exemplo, pode ser que você tenha que obedecer o seu chefe por que é ele que garante o emprego e, dessa forma, você precisa dele, porém, você enxerga nele um líder?

Nós daríamos a vida pelo nosso instrutor-líder, pois ele era humano, nos tratava como um pai severo, que nos amava como filhos, porém, não “amansava” a nossa formação, pois sabia que o fogo forte é necessário para formar o aço bom.

Liderar não se trata de passar a mão na cabeça, de ser o bonzinho sempre. Liderar se trata de justiça, de ser justo com o seu grupo e com cada um dos indivíduos que o compõe. E a primeira forma de ser justo com todos é ser justo na sua relação com eles.

Se você os manda fazer algo que não faz, nunca fez ou não tem capacidade de fazer, você não está sendo justo! Portanto, se você quiser ser um líder, não seja um moral de cueca!

Lição 2 - Sem humildade, você nunca será um líder!

Quem consegue conviver com uma pessoa arrogante, que acha que sabe tudo sobre tudo e que, por mais que não fale muitas vezes, se comporta como sendo melhor do que todos? Ninguém! Pelo menos, não de boa vontade.

Lembro que certa vez, enquanto eu era aluno da EsPCEX e participava de uma competição entre as três Forças que compõem as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), aconteceu um fato que ficou gravado até hoje na minha memória.

Eu era atleta da equipe de Basquete da EsPCEX e durante os jogos as torcidas, compostas por alunos das Escolas de Formação das três Forças, animavam a ocasião com gritos de guerra, músicas, etc, como qualquer torcida típica, só que sem perder a disciplina, claro. 

Ao final do jogo, o qual vencemos, ocorreria a cerimônia da entrega das medalhas. Os comandantes das 3 Escolas de Formação, que sentavam em um lugar reservado no centro da arquibancada e vibravam junto com os lances durante toda a partida, iriam entregar as medalhas para todos os atletas.

Ficamos todos em forma, em fileira, um ao lado do outro, no meio da quadra e de frente para o local onde os comandantes estavam sentados, aguardando enquanto eles desciam para nos premiar. 

Ao descerem os degraus, um dos comandantes tropeçou em um fio e deu um pequeno movimento em falso, como se fosse cair. Rapidamente, por reflexo, um dos soldados que estava do lado ajudou apoiou o comandante e desenroscou o fio do seu pé.

Até aí tudo bem. O que se esperava em seguida? No mínimo, um “Obrigado, combatente”.  O que aconteceu? O comandante deu um berro no soldado que se voluntariou para ajudá-lo e mandou que ele tirasse aquele fio do local.

Bem, eu não sei se aquele comandante era sempre grosso e arrogante daquele jeito, talvez ele tenha apenas ficado com vergonha e reagido por impulso, porém, a imagem que ficou na minha cabeça foi a de um cara completamente estúpido!

Humildade, muitas vezes, se resume a ter boa educação, coisa que deveríamos aprender em casa. Se alguém lhe ajudar, mesmo que esta seja a sua obrigação, olhe nos seus olhos e fale “Muito Obrigado”. Isso mudará a sua vida e a dela. Se essa pessoa tiver qualquer tipo de preconceito contra você, se ela imaginar qualquer coisa sobre você, gradativamente isso será quebrado e a sua imagem será positiva na mente dela.

E um líder precisa ter uma boa imagem perante as pessoas ao seu redor. Ser humilde significa aceitar que somos todos iguais e, ao mesmo tempo, diferentes. Ninguém é melhor do que ninguém por causa da sua classe social, cor ou religião, porém, todos nós temos características que nos tornam únicos.

Ter humildade significa aceitar a ajuda do outro, entender que “ninguém é tão sábio que não possa aprender nada, ou tão burro que não possa ensinar”. Estamos todos em uma jornada contínua nesta vida de desenvolvimento. Somos seres de luz, preenchidos por uma energia que também pode iluminar a vida de outras pessoas.

Sem humildade, um líder pode até ser temido, porém, jamais será respeitado!

E se você não for respeitado, o seu grupo poderá até cumprir as suas ordens, porém, você nunca vai ganhar a cooperação voluntária de ninguém! Ou seja, as pessoas poderão até fazer aquilo que você manda, mas elas nunca ajudarão você de boa vontade, nunca estenderão a mão voluntariamente para lhe ajudar.

Isso me lembra de uma outra história!

Servi em uma Guarnição na Amazônia em que existia uma avenida principal que dava acesso ao Batalhão. Praticamente todos os militares que ali trabalhavam passavam de manhã cedo em seus veículos ou ônibus em direção ao quartel. 

E neste dia específico teríamos uma formatura geral no Batalhão, ou seja, todo o quartel entraria em tropa no pátio principal para uma cerimônia presidida pelo comandante do Batalhão. Para iniciar a formatura, o subcomandante geralmente apresenta a tropa ao comandante, que é um militar mais antigo.

O problema naquele dia foi que no momento em que a formatura deveria iniciar, o subcomandante não estava presente. Isso jamais havia acontecido, pois ele era sempre um dos primeiros a chegar e cobrava a pontualidade de todos rigorosamente. Aliás, ele era um militar bastante rigoroso e bem parecido no quesito exemplo com o instrutor Bolota que falei anteriormente.

Só que o Bolota era até engraçado. No fundo, no fundo, a gente gostava dele, apesar de não enxergarmos nele um líder. Mas este subcomandante era muito, muito, muito arrogante, do tipo que andava com o nariz em pé e parecia andar flutuando. Ninguém gostava dele!

Logicamente o comandante do Batalhão, um cara que todos admiravam por sua liderança, o oposto do subcomandante, ficou muito preocupado. Passaram-se 5, 10 minutos e nada do subcomandante chegar. 

Quando a cerimônia estava prestes a começar, vimos de longe a figura do subcomandante correndo, suando, com a boina mal colocada na cabeça, entrando na formação rapidamente para que a formatura iniciasse.

Como estavámos todos parados, imóveis em forma, do canto do ouvido vi que quase todos os militares estavam rindo da situação. Lógico que, por dentro, eu também caía na gargalha.

E daí veio o pior!! Ao final da formatura, levei os soldados que estavam sob meu comando para a nossa companhia e lá, quando os liberei, todos caíram na gargalhada sobre o acontecido. 

Eu fiquei sem entender direito, pois, apesar da situação ter sim sido engraçada, os soldados estavam rindo muito. Então perguntei a um deles o motivo de tanta gargalhada, daí ele me disse o seguinte:

“Ah, tenente, tá todo mundo se rachando de rir por que todo mundo passou por ele hoje de manhã ali na avenida com o pneu furado e ninguém parou pra ajudar. O pessoal virava o rosto e fingia que não via. Quem manda ele ser tão babaca?”

Pois é, se eu tivesse visto eu também não teria ajudado, pensei comigo mesmo!

Ou seja, ninguém ajudou de forma voluntária o subcomandante por que ele não era alguém humilde, estava sempre se utilizando da sua posição hierárquica para amedrontar e humilhar os outros.

E se você realmente deseja se tornar um líder, se realmente quer ser visto como alguém que inspira e motiva, por favor, pratique a sutil arte de ser uma pessoa humilde. O mundo agradece, já temos pessoas arrogantes demais por aí.

E ser humilde não significa se rebaixar a nada. Eu já vi generais humildes e também já vi soldados arrogantes. Já conheci milionários humildes e pobres que mais pareciam defecar notas de cem. 

Ser humilde tem a ver com o caráter, com aquilo que temos por dentro, com a nossa essência e, ao meu ver, é um requisito essencial de um verdadeiro líder.

Lição 3 - O liderado sempre estará de olho no líder!

Uma coisa que os nossos instrutores sempre nos falavam durante a nossa formação era que os nossos soldados sempre estarão observando as nossas ações e, por isso, para que não perdessemos jamais a nossa liderança, nós deveríamos estar sempre atentos a tudo aquilo que fazíamos.

Isso tem muito a ver com dar o exemplo, porém, acredito que é um conceito mais profundo, pois está relacionado também a coisas menores e que não, muitas vezes, não tem nenhuma relação profissional.

Em uma das companhias que servi, existia um tenente mais antigo que tinha uma grande liderança perante toda a tropa. Ele tinha um ótimo condicionamento físico, tratava com justiça os seus subordinados, possuía grande capacidade técnica dentro das atividades militares e era bastante disciplinado.

Todos gostavam muito dele, subordinados, pares e superiores. Só que ele tinha um “pequeno” problema fora do quartel. Ele bebia demais. Só que isso, nunca tinha atrapalhado em nada nas atividades profissionais que ele desempenhava. Ele nunca havia chegado bêbado no quartel ou cometido qualquer tipo de indisciplina. 

Frequentemente ele saia nos finais de semana, bebia bastante e cometia algumas pequenas alterações por onde passava. E inclusive tinha a péssima (e ilegal) mania de dirigir bêbado.

Certo dia, enquanto nos preparávamos para uma missão, um dos soldados do pelotão deste tenente chegou atrasado e com sinais de embriaguez. Na frente de todo mundo, o tenente deu uma bronca no soldado que, inclusive, havia adentrado no quartel dirigindo. Aquilo era motivo suficiente para que ele fosse preso!

Daí o soldado, no auge da sua insanidade alcoolica, pergunta com tom de desafio ao tenente: “Mas por que o senhor pode dirigir bêbado pela cidade nos finais de semana e eu não posso?”.

Pois é, o subordinado está sempre nos observando, dentro ou fora do quartel!

Você já passou ou presenciou por uma situação assim? Não estou aqui julgando ninguém, afinal, todos nós cometemos falhas e, muitas vezes, falhas gravíssimas. Mas certamente aquele tenente aprendeu uma lição valiosa naquele dia e isso ficou nítido para todos a partir dali.

Ele parou completamente de beber e começou a se dedicar ainda mais aos treinos de corrida e natação. Algum tempo depois, começou a pedalar e pelo que acompanho nas suas redes sociais, hoje é um Triatleta.

Sempre tive uma enorme admiração por ele e, pelo que ele fez após este episódio, pela forma que agiu, corrigindo os seus atos, melhorando a sua imagem e o exemplo que dava para todos, passei a respeitá-lo ainda mais.

Nunca se esqueça, os seus liderados sempre, sempre, sempre estarão lhe observando, portanto, dê o exemplo em todos os aspectos, dentro e fora do ambiente em que convive com eles. 

Este é um dos fardos que carregam todos os grandes líderes!

Lição 4 - Sempre repreender individualmente e elogiar publicamente!

Essa lição eu aprendi com um subtenente de uma das companhias em que servi. Ele tinha idade para ser meu pai, já estava prestes a passar para a reserva, ou seja, se aposentar.

Assim que me formei Aspirante a Oficial, cheguei na tropa cheio de energia, doido para aplicar na formação dos recrutas todos os conhecimentos que eu tinha adquirido nos meus 5 anos de formação. 

Como dizíamos no jargão militar, o aspirante chega com “sangue nos olhos” pra sugar os recrutas! 

Só que depois de um ano de formado, fui servir em uma companhia onde os soldados eram todos profissionais, ou seja, não eram mais recrutas, todos já tinham passado pela formação básica e eram já mais experientes. Logo no primeiro contato que tive com o subtenente, ele me disse algo assim:

“Tenente, todos aqui tem um grande respeito pelo senhor e vibram muito com o sr, porém, o sr permite que eu lhe dê um pequeno conselho, que aprendi nos meus quase 30 anos de carreira?”.

Bem, eu tinha somente 24 anos de idade e apesar de ser mais antigo hierarquicamente que o subtenente, certamente tinha humildade o suficiente para aceitar o conselho de alguém que tinha mais tempo de serviço do que eu tinha de idade.  E ele me disse algo que os nossos instrutores sempre repetiam durante a nossa formação:

“Não trate o seu soldado profissional como o sr tratava o recruta ou como foi tratado durante a sua formação!”

Que lição de vida aquele subtenente me deu!

Pedi que ele me explicasse um pouco mais, fosse mais a fundo naquela dica (ou bizu, no jargão militar) que ele estava me passando e ele me falou que uma das coisas que podem me fazer perder a liderança do meu grupo é se eu repreender de forma errada os meus subordinados.

Por exemplo, no meu pelotão, além dos meus soldados, existiam os cabos, que eram mais antigos que os soldados e os sargentos, que eram mais antigos que os cabos. Entre os sargentos, existiam aqueles que eram mais antigos que os outros sargentos, pois haviam se formado antes na Escola de Formação.

Eu nunca deveria repreender um militar mais antigo na frente de militares mais modernos que ele. Eu nunca deveria repreender o cabo na frente dos soldados, ou um sargento na frente de um soldado, de um cabo ou de um sargento mais moderno que ele, pois se eu fizesse isso, faria com que esse militar perdesse a sua liderança perante os mais modernos e, consequentemente, eu iria perder a minha liderança.

Imagine que o presidente da empresa onde você trabalha certo dia dá uma bronca, por qualquer motivo que seja, muito grande em um dos seus gerentes, na frente de todos os outros funcionários. Imagine essa cena em sua cabeça! Nada legal, não é?

Lógico que, em alguns momentos, se faz necessário chamar a atenção de alguém em público, porém de modo geral, isso deve ser evitado e quando não puder ser, deve ser feito de uma forma muito sutil e inteligente.

Quando estávamos em uma operação, por exemplo, eu precisava chamar a atenção de um militar na frente de outros militares mais modernos que ele e não tinha como fazer isso de forma individual naquele momento, geralmente eu me utilizava do humor para fazer isso.

Falava coisas como “Você quer matar a tropa, guerreiro? Arruma isso aí!”  e fazia a chamada de atenção de forma mais suave, onde todos riam (na medida do possível) e corrigiam suas atitudes. Geralmente isso funcionava e, caso necessário, eu depois conversava individualmente com os militares envolvidos.

De modo contrário, me falou o subtenente, os elogios deveriam ser dados sempre em público, em alto e bom som. Sempre que algum militar fazia algo que o diferenciava, algo acima da média, eu deveria elogiar ele, destacar o que ele fez, na frente de todo mundo!

Na vida militar são comuns as cerimônias e formaturas realizadas para premiar os militares que se destacam, seja através de medalhas, certificados ou simplesmente de forma verbal. Após o período de formação básica dos recrutas, por exemplo, são sempre escolhidos e premiados aqueles que se destacaram mais, tendo tido os melhores desempenhos nas instruções e testes.

E isso é algo que tende a elevar ainda mais a liderança tanto daquele que recebe a premiação/elogia quanto daquele que a oferece. Além disso, os demais integrantes geralmente se sentem ainda mais motivados a trabalhar bem ao verem que aqueles que se destacam positivamente são recompensados.

Se você quer se tornar um líder, lembre-se: Sempre que possível, repreenda de forma individual e elogie em voz alta, na frente do maior número de pessoas que conseguir!

Lição 5 - Ser justo não é tratar todos da mesma forma!

O que é ser justo pra você? Tratar todas as pessoas de forma igual? Bem, no Exército eu aprendi um conceito um pouquinho diferente e que, com o tempo, aprendi a concordar e aplicar em minha vida.

“Justiça não é tratar a todos de forma igual. Ser justo é tratar os iguais com igualdade e os desiguais com desigualdade à medida que eles se desigualam”.

Deixa eu te explicar isso melhor. Imagine que você é um ótimo funcionário na sua empresa. Você sempre chega antes do horário, cumpre todas as suas tarefas, ajuda os demais integrantes da sua equipe, é sempre voluntário para contribuir com o que for necessário e está sempre dando o seu melhor.

Só que na sua equipe existe um outro funcionário, que está no mesmo cargo que o seu,  que não é tão comprometido quanto você. Falta bastante, chega atrasado e está sempre fazendo corpo mole. Nunca é voluntário para ajudar ninguém e, na realidade, sempre sobra pra alguém trabalhar a mais para cobrir os furos que ele deixa.

O supervisor da equipe, contudo, trata todos os membros da equipe de forma igualitária. Se a equipe tem direito a um bônus ou uma folga devido ao seu desempenho, por exemplo, todos são premiados da mesma forma. 

Como você se sentiria se isso acontecesse? Não muito bem, não é mesmo?

Pois é, isso tem tudo a ver com o conceito de justiça que citei acima. Os iguais, aqueles que cumprem o que deve ser feito, que não pesam para a equipe, que apesar de às vezes errar, estão sempre dispostos a aprender e evoluir, esses sim devem ser tratados com igualdade.

Os desiguais, aqueles que erram, porém escolhem permanecer no erro, não se interessam em melhorar ou contribuir com a equipe, estes devem ser tratados com desigualdade, à medida que se desigualam.

No exemplo acima, o que acontecerá com a liderança desse supervisor “democrático”? Bem, provavelmente, no começo as pessoas até acharão essa uma característica legal e dirão que ele é gente boa, um cara bacana, etc. 

Com o tempo as coisas tenderão a piorar, afinal, ninguém vai gostar de ser tratado da mesma forma que alguém que não está contribuindo e que é mal visto pelo grupo. 

A liderança do supervisor começará a ser questionada e ele começará a ser visto com um líder fraco, alguém que não consegue chamar a atenção e corrigir as atitudes de um subordinado que está causando problemas. 

E nenhum grupo, repito, NENHUM GRUPO gosta de um líder fraco! Um líder deve ser forte e justo. E ser justo não é tratar a todos da mesma forma. Ao tratar o funcionário problemático da mesma forma que tratava os demais, o supervisor cometeu uma injustiça com o grupo e isso poderá lhe custar a liderança.

E uma vez que você perde a liderança de um grupo, é muito difícil reconquistá-la novamente.

Se você quer ser um líder, trate com igualdade os iguais e com desigualdade os desiguais à medida em que se desigualam.

Lição 6 - O líder deve entender de tudo um pouco e sempre buscar mais conhecimento!

Na nossa formação na Academia Militar das Agulhas Negras temos, durante 5 anos, aulas e instruções, teóricas e práticas, relacionadas aos mais diversos tipos de conhecimentos, dentre eles:

  • Armamentos e tiro;
  • Equitação;
  • Oratória;
  • História Militar;
  • Técnicas Militares;
  • Administração;
  • Direito Constitucional;
  • Inglês e Espanhol;
  • Química relacionada ao uso de explosivos;
  • Treinamento físico;
  • Cálculo;
  • Mecânica, etc.

A lista se estende muito mais, porém, as disciplinas listadas acima já servem para exemplificar um conceito que nós sempre ouvíamos dos nossos instrutores: “Um Oficial deve ter um mar de conhecimentos, com um palmo de profundidade. Somos formados para ser generalistas”. 

Confesso que eu não entendia muito bem o porquê disso durante a minha formação, porém, quando cheguei na tropa, após a minha formatura e fui exercer as minhas funções de Oficial, pude perceber na prática a importância de termos sido formados assim.

Um Oficial é formado para ser um líder e, acima de tudo, um tomador de decisão. E, para tal, é necessário que tenhamos um vasto arsenal de conhecimentos em nossa mente, mesmo que de forma superficial.

Um Presidente da República, por exemplo, pelo menos em tese, deveria ser alguém que tenha a capacidade de tomar decisões baseadas nos conselhos especializados dos especialistas que trabalham sob o seu comando. 

Ou seja, ele não precisa ser especialista em Economia, basta que tenha uma noção básica para escolher bem os especialistas que irão trabalhar no Ministério da Economia e possa, com os conhecimentos que possui, decidir da melhor forma, orientado por esta equipe, o que for melhor para o país no quesito Economia.

Um médico, da mesma forma, possui uma formação generalista. Durante os seus 6 anos de formação, ele tem a oportunidade de percorrer os conhecimentos acerca das doenças e tratamentos envolvendo diversas áreas da medicina, porém, ao se formar, não será especialista em nada.

Se quiser se especializar em determinada área, como por exemplo em cardiologia ou ortopedia, o médico generalista deverá realizar uma nova formação, através de uma outra formação focada na área que escolher.

Tanto o Presidente quanto um médico devem ser bons líderes no cumprimento de suas atividades. Enquanto este terá, muitas vezes, sob o seu comando, enfermeiros, técnicos, residentes e até mesmo outros médicos, aquele estará na direção de toda uma Nação.

A capacidade de liderança de ambos é primordial para salvar e melhorar vidas!

Saber de tudo um pouco não significa, contudo, que você tenha que saber de tudo, afinal, isso é impossível. Porém, ao ter uma visão mais ampla e estar sempre buscando novos conhecimentos em sua área de atuação e da sua equipe, um líder terá muito mais chance de tomar as melhores decisões.

Quando procuramos saber de tudo um pouco e estamos constantemente aprendendo, passamos a ter, como líderes, uma visão mais ampla daquilo que estivermos fazendo e, como consequência, seremos muito mais respeitados.

A equipe tende a respeitar muito mais um líder quando sabe que ele é alguém capacitado, que “sabe o que está falando” e que não é apenas alguém que se vale do seu posto para supervisionar o trabalho dos demais.

Por diversas vezes, em minha carreira, surgiam problemas os quais eu não tinha capacidade técnica para resolver. Por exemplo, certa vez, no meio de uma operação fluvial, o motor de uma de nossas embarcações parou de funcionar e nós tivemos que estacionar toda a tropa para resolver o problema. Isso em plena Selva Amazônica.

Eu não sabia como consertar o motor, porém, no nosso pelotão existia um soldado com grande capacidade em mecânica e que geralmente dava conta desses serviços. Enquanto ele consertava o motor, fiquei ao seu lado fazendo perguntas e observando o seu trabalho.

Da próxima vez que o mesmo problema aconteceu, embora eu ainda não tivesse a mesma capacidade técnica que o soldado mecânico, já possuía uma noção básica do que poderia ter acontecido e como poderia ser solucionado. E como eu sempre procurei fazer isso (perguntar e observar) acerca de todos os problemas que aconteciam, com o tempo eu fui me tornando um militar mais inteligente e experiente.

Isso tem muito a ver com a humildade que falamos lá em cima, lembra? Um líder precisa ter humildade para reconhecer que ele não sabe tudo e que pode sempre aprender um pouco mais.

Se você quer ser um bom líder, seja sempre curioso e humilde, procure saber de tudo um pouco e jamais ache que já sabe de tudo. 

Lição 7 - Respeite o seu líder

Se você não sabe, é muito comum entre os subordinados falar mal do chefe. Sim, isso acontece em qualquer ambiente. Se você é um gerente, por exemplo, não importa o quão bom você seja, os seus subordinados sempre falarão mal de você, mesmo que por “brincadeira”.

Acho que faz parte da natureza humana contestar, de algum modo, o poder de outras pessoas e/ou instituições.

E uma coisa que aprendi é que jamais devemos fazer esse tipo de brincadeira ou afrontar o poder das pessoas que estão acima de nós em uma determinada hierarquia na frente daqueles que estão abaixo, pois isso só tende a diminuir a nossa própria liderança.

Por exemplo, se o tenente ficar constantemente falando mal do coronel na frente dos soldados, os soldados se sentirão livres para falar mal do tenente pelas costas também, afinal, ele mesmo deu o exemplo errado.

Se o chefe de um determinado setor em uma empresa ficar o tempo todo falando mal do gerente geral, desrespeitando a sua autoridade na frente dos seus subordinados, mesmo que ele tenha razão em suas críticas, as chances são que a sua própria autoridade começará a ser contestada com o tempo.

Nem grupo gosta de injustiça, lembra? E falar mal de alguém pelas costas é uma tremenda covardia, mesmo que a pessoa a quem nos referimos seja um tremendo babaca.

Lembro que em um dos anos da minha formação na AMAN, o meu comandante de companhia, um capitão que todos nós respeitávamos e admirávamos, por ser um homem sereno, justo e que nos ensinava bastante, não possuía nenhum curso operacional. Ele era, como costumamos dizer no jargão militar, um “peito liso”.

A quantidade de cursos operacionais não define o padrão de ninguém e isso eu aprendi com o tempo, porém, na minha companhia, um dos tenentes, que possuía vários cursos e estágios,  costumava afrontar a autoridade do capitão e tirar sarro pelas costas dele de vez em quando. E o pior, ele fazia isso na frente dos cadetes.

Obs: O tenente é mais “moderno” que o capitão, ou seja, está abaixo dele na hierarquia militar.

Hoje entendo que aquela atitude do tenente era fruto da sua imaturidade e que ele fazia aquilo em uma tentativa de aumentar a sua própria autoridade perante os cadetes. Eu admirava muito o tenente, ele era um modelo para mim de profissional, porém, essa era uma atitude que, mesmo na época, eu reprovava.

Certa vez, lembro que o capitão estava falando com a companhia sobre algo que não me recordo muito bem. Os tenentes todos estavam um pouco atrás dele e vi que o “tenente indisciplinado” começou a rir levemente e balançar a cabeça em tom de negação para as palavras do capitão.

Nós todos admirávamos muito o capitão e, para nós, pouco importava se ele possuía algum curso ou não. Ele era um grande líder para nós, pois era um homem justo e sábio. A minha admiração pelo tenente foi aos poucos diminuindo e levei aquele ensinamento comigo pelo resto da vida.

Se você quer ser um líder, não fale mal dos seus superiores hierárquicos na frente dos subordinados. Aliás, procure não falar mal de ninguém, pois todos nós temos as nossas falhas e estamos evoluindo nessa grande jornada de desenvolvimento chamada vida!

CONCLUSÃO

Estudar os conceitos relacionados à liderança é uma tarefa muito mais simples do que aplicar e praticar uma boa liderança no mundo real. A teoria é muito importante, porém, como dizemos no jargão militar, “nenhum planejamento resiste ao primeiro tiro”, ou seja, “na prática, a teoria é outra”.

Espero que você reflita sobre as situações práticas que vivi e apresentei acima. Pense sobre as suas atitudes e das pessoas que estão ao seu redor. Se tornar um bom líder não é tarefa fácil, porém, é algo totalmente possível para qualquer pessoa que esteja disposta a se relacionar melhor no mundo.

Ser um líder em casa, no trabalho e na sociedade, de modo geral, é uma característica que deve ser buscada por todos aqueles que querem contribuir para a construção de um mundo melhor.

Seja um líder de si mesmo e do mundo! Nunca se esqueça: Você nasceu para Iluminar!

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Thiago Henrique

Casado, Bacharel em Ciências Militares e Administração pela Academia Militar das Agulhas Negras, Especialista em Influência Digital pela PUCRS, Educador e Empreendedor.

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